Baía de
Guanabara

Em tempo de emergências, sonhar, e fazer sonhar, é, certamente, a ação mais política que podemos ter.
Frente a um projeto político moderno de controle e insensibilização dos corpos que lhes tolhe de sua potência de agir, Territórios Sensíveis|Baía de Guanabara busca nos desdobramentos éticos, estéticos e políticos da prática laboratorial de pesquisa e criação em artes uma força propulsora para o tecer da imaginação e de um empoderamento social e político, individual e coletivo, de comunidades, artistas e cientistas. Nossas ações tornam-se assim um convite ao pensar, sentir, imaginar e sonhar, inscrevendo-nos em nossa própria temporalidade, mas também para além dela. São estímulos à investigação e composição de formas possíveis de habitar e de fazer mundo, de pertencer e de agir para a construção de um mundo mais justo social e ambientalmente; um modo de ir ao encontro do outro, de re-sensibilizar nossos corpos, ativando-os, lançando-os ao deslocamento, à suspensão, à porosidade. Provocando, por um lado, encontros e trocas em busca de novas possibilidades de relação, de coexistência e de cocriação entre nós, humanos, e os territórios que habitamos e entre humanos e não-humanos; por outro, é, também, um exercício de invenção de outras formas ético-políticas de fazer arte, propondo participação, colaboração e engajamento ao instaurar processos de criação que se dão em acontecimento, num continuum.
Baía de Guanabara tornou-se uma ação artivista ao repensar o potencial político da arte em sua relação com o social e o ambiental, em especial por suas capacidades de fazer sonhar e de agir na construção de outros mundos [sim] possíveis.

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Como um projeto de longa duração, Baía de Guanabara investiga o impacto das mudanças climáticas nos modos de vida contemporâneos, especialmente nas comunidades tradicionais, caiçaras e quilombolas que vivem às margens da Baía de Guanabara. A pesquisa, iniciada em 2016, ano de realização dos Jogos Olímpicos na cidade do Rio de Janeiro, tinha a poluição das águas e o lixo flutuante como eixo central das ações. No entanto, em 2019, ao receber o prêmio “Cultural and Artistic Response to Environmental Change” do Prince Claus Fund e Goethe Institut, realizamos um mergulho profundo nas águas da Guanabara, nos deparando com um projeto petropolítico de destruição em curso que nos lançou ao desafio de atuar em uma “zona de sacrifício” (Klein, 2015). Diante deste desafio, iniciamos nossas ações e instalamos nossos Laboratórios de Pesquisa e Criação.
Como um projeto transdisciplinar que reúne artistas, cientistas, ambientalistas, ativistas e as comunidades locais, nossos laboratórios consistem em ações de pesquisa e criação balizadas por práticas performativas, imersivas e colaborativas, fundamentadas em conceitos como emergência, processualidade e experiência. São compostos por residências artísticas, oficinas, processos de investigação e criação, intervenções urbanas, performances, discussões e compartilhamentos. Ancorados em uma metodologia performativa (Performance as Research -PaR. Arlander, 2017; Hunter, 2009), estes laboratórios visam produzir uma forma de conhecimento corporificado e situado. Além disso, tornam-se uma estrutura para o estudo, aprimoramento e desenvolvimento de novos conceitos e metodologias, configurando-se assim como uma dobra.

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Em Baía de Guanabara realizamos quatro laboratórios ao longo dos anos de 2019 e 2020, com duração de 5 a 10 dias cada, que contaram com a participação de um grupo de 12 artistas e 10 colaboradores, moradores de duas comunidades: Colônia Z-10 – Ilha do Governador e Ilha de Paquetá. Nos três primeiros laboratórios, convivemos com e nos territórios insulares. No quarto laboratório, convivemos, durante 5 dias, artistas e colaboradores, em uma galeria de artes, localizada na região sul da cidade do Rio de Janeiro. Finalizamos esta etapa do projeto com uma exposição e um seminário abertos ao público.
Ainda em 2020, como parte de um novo mapeamento performativo, realizamos uma imersão na área de manguezal da Área de Proteção Ambiental de Guapimirim (APA de Guapimirim - ICMBio), localizada na região nordeste da baía, o conhecido recôncavo da Guanabara.
Com nossas atividades interrompidas pela pandemia ocasionada pelo vírus SARS-CoV-2 – COVID 19, retomamos nossos laboratórios em 2021 e seguimos trabalhando junto às comunidades com novos projetos.

Laboratório 1 - Mapeamento Performativo

Com o objetivo de realizar um mapeamento performativo, ou seja, um mapeamento realizado com nossos corpos em movimento imbricados em um território específico, habitamos durante dez dias diferentes pontos da Baía de Guanabara. Nesta primeira etapa do projeto, tecemos diálogos com as comunidades locais, com autores e artistas e, sobretudo, vimos emergir questões nunca antes imaginadas por nós.
Percorrer a Baía de Guanabara em toda a sua extensão, num barco, com pescadores locais, nos apresentou a dimensão das questões que, literalmente, estão no nível mais profundo dessas águas. Ao habitar algumas partes que a compõem – Ilha de Paquetá, Colônia Z-10, Ilha do Governador, Praias de Niterói, Mangue de Guapimirim – experienciamos a força das águas, aterramentos, assoreamento, poluição, descaso, desesperança, mas também o vigor e o cuidado das comunidades locais, os sonhos, a esperança e muita vida: tartarugas, peixes, botos e pescadores. Vidas e histórias de pessoas, fauna e flora marinha que persistem e resistem, habitando e cuidando deste território.
Símbolo Nacional e patrimônio da humanidade | ONU 2012, na Baía de Guanabara são despejados 18 mil litros de esgoto doméstico não tratados por segundo, 90 toneladas diárias de lixo flutuante, um número não contabilizado de litros de esgoto químico lançado pelas indústrias e os, também não contabilizados, litros de petróleo e óleo derramados diariamente pela atividade petrolífera. Dutos de petróleo, grandes companhias petroleiras, plataformas, Ilhas que abrigam as bases petrolíferas e embarcações petroleiras, compõem esta paisagem Petropolítica.

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A Baía de Guanabara está no meu horizonte diário. Olhar sobre ela mistura um sentimento de distanciamento a um pertencimento. Não me lembro de ter mergulhado em suas águas, não há esse desejo e nunca houve, talvez pela noção de que o uso daquelas águas não fosse nobre. O que me chama atenção é sua presença ao fundo de todo o caminho de quem transita em seu entorno, seja em Paquetá, na Colônia Z-10, em Niterói ou na cidade do Rio de Janeiro. Não há como desconsiderar a agonia de suas águas escuras de um futuro duvidoso. Percebemos em cada desembarque em suas praias uma história, suas ilhas com passados gloriosos. A paisagem da baía causa impacto de todos os ângulos possíveis, seja pela beleza exuberante de uma baía que é quase mar, ou pela visibilidade do descaso cruel à natureza viva que ali ainda resiste à exploração humana. Nesse turbilhão de ideias e puro arrebatamento, nos inserimos nessa paisagem, somos parte dessa natureza e há urgência em tomarmos consciência dessa conexão.

Patrícia Freire (artista Convidada)

Por ser carioca, nascida e criada no Rio de Janeiro, a Baía de Guanabara sempre habitou meu imaginário, desde palco das invasões europeias até tornar-se cartão postal da Zona Sul carioca. Contudo, minha relação é distanciada, de modo geral a vejo quando estou a bordo de um dos inúmeros aviões que a atravessam diariamente – de cima aprecio sua beleza decadente, sua grandeza monumental, de cima vejo as marcas do ´progresso´, as manchas de óleo dos navios que trazem contêineres do mundo todo, a imponente Ponte Rio-Niterói, o bondinho que sobe e desce diariamente abarrotado de gringos deslumbrados com o exotismo brasileiro. Portanto, a conhecia de cima e do ´meu lado da Baía’. Realizar um mapeamento performativo neste território transformou meu imaginário, desde o primeiro dia de residência quando vimos tartarugas nadando naquela água turva e fétida. Fiquei atônita, me surpreendi que pudesse existir vida ali, demorei a processar que aquelas cabecinhas que emergiam no espelho d´água não eram garrafas PET.

Patrícia Freire (artista Convidada)

Certos cientistas, assim como alguns artistas, têm afirmado nos últimos anos, que a água pode possuir memória, que a água se lembra. O tanto que as águas da Baía de Guanabara possuem de memória uma mente humana não poderia comportar. Fazer uma breve residência nesse território envolveu o esforço de lidar com a impossibilidade de alcançar essa memória passada e especular em torno das memórias que estamos produzindo para essas águas hoje. Banhando mais de uma centena de ilhas, essas águas já sabem quais delas fará desaparecer no futuro próximo, devido as mudanças climáticas? Sabem por quanto tempo se manterá como um “cinturão explosivo”, repleta de dutos e tanques de armazenamento de combustível? Por quantos anos conviverá com os fósseis de nossa petropolítica?

Ruy Cesar Campos (artista Convidado)

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Laboratório 2 – Colônia Z-10 – Ilha do Governador | RJ

Às margens do Rio Jequiá, num encontro entre o mangue do Jequiá e a Baía de Guanabara, está localizada a primeira colônia de pescadores com registro do Brasil, a Colônia Z-10, fundada em 17 de novembro de 1920. Com terras cedidas pela Marinha do Brasil às famílias de pescadores, ao longo dos anos a comunidade sofreu um processo de favelização e hoje conta com mais de 5 mil moradores, dos quais apenas cerca de 400 sobrevivem da pesca.
Somado às questões recorrentes nos processos de favelização – construções desordenadas, falta de infraestrutura sanitária e urbana, abandono do poder público –, a centenária Colônia Z-10, encontra-se completamente sufocada e exposta à poluição das águas do rio Jequiá e da Baía de Guanabara. A área de manguezal, ou o que restou dela, sofre o despejo de esgoto in natura lançado pelas casas da comunidade, além de receber diariamente toneladas de lixo sólido e todo o impacto dos constantes derramamentos de petróleo e seus derivados nas águas da Guanabara.
O cheiro forte que vem do mangue, presente na vida cotidiana desta comunidade, assim como a poluição e seu impacto na saúde de cada um dos moradores, tornam-se imperceptíveis diante de corpos asfixiados pela necropolítica (Mbembe: 2020).
Mas a colônia resiste! E, num ato de resiliência, jovens pescadores, jovens moradores, crianças e moradores de diferentes idades se somaram às nossas ações.
Durante os 10 dias de desenvolvimento das atividades do Laboratório Territórios Sensíveis, tivemos como colaboradores os jovens pescadores Tiago Caiçara, Luiz Antônio Franco (Pãozinho), Gabrielly Travasso, Giovani Armane e João Victor Abreu. Contamos ainda com o apoio de toda a colônia, sobretudo, dos pescadores mais antigos ainda na ativa, o Sr. Geraldo e o Sr. Pedro. Participaram, como artistas residentes, Ruy Cezar Campos, Patrícia Freire, Mari Moura, Sofia Mussolin, Marcela Cavalini, Alessandro Paiva e Walmeri Ribeiro.

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“O que podemos aprender com o Mangue para (sobre)viver na/às ruínas do Antropoceno?”
Walmeri Ribeiro

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O não conhecimento de parte dos moradores da colônia – sobretudo dos que não sobrevivem da pesca –, sobre a existência e importância do sistema manguezal para o equilíbrio ambiental, me instigou a propor uma Experiência Mangue. Afinal, o que podemos aprender com o Mangue para (sobre)viver na e às ruínas do Antropoceno? Num primeiro momento, realizei uma ação com as crianças da colônia, convidando-as para uma experiência no mangue. Respirar, meditar, sentir, escutar, sonhar. Como podemos respirar com o mangue? O que ele nos traz? Da meditação ativa e da experiência sensorial emergiram surpresas, sonhos e aprendizados transformados em desenhos e frases. A descoberta do mangue como parte de um corpo casa. A descoberta do movimento do manguezal, dos sons e da intensidade dessas raízes voadoras.
Num segundo momento, convidei os moradores que vivem nas casas à beira do mangue, os colaboradores e os artistas do projeto, a participarem de uma ação performática junto ao mangue e aos muros/fronteiras que o sufocam. O simples gesto de manter-se em pé, respirar com os olhos fixos num ponto do manguezal. Permanecer. Virar à direita. Manter a respiração e o ritmo desta. Olhar num ponto fixo do muro. Permanecer. Virar à esquerda. Olhar novamente para o manguezal. Desta experiência performativa desdobra-se não apenas o gesto político de respirar, mas também um aprendizado que pode nos levar a repensar os nossos pequenos gestos e hábitos, rompendo com nossos modos de viver e habitar o mundo, gerando mudanças, ainda que pequenas, e a certeza de que precisamos nos fazer mangue, com toda a força, flexibilidade, porosidade e capacidade de criação e reinvenção de vidas. Do simples estar, sentir, olhar, cheirar, respirar juntos, é que pode emergir o que chamamos de Experiência, levando nossos corpos-humanos à suspensão e à coexistência com corpos-não-humanos. Este corpo-processo, situado em um determinado território, é capaz de nos apontar questões, atravessamentos e conhecimento corporificado. Uma experiência de extraterritorialidade.

Duto - Ruy Cezar Campos

Em uma das nossas visitas à colônia, encontramos um duto preto de cinco a seis metros de comprimento entre as raízes do manguezal, este se tornou a base da minha proposição. Um de nossos colaboradores, Tiago Caiçara, explicou que ele havia flutuado através da Baía de Guanabara, passando pelo refluxo da maré diretamente para a foz do rio Jequiá, onde danificou algumas pequenas embarcações. Caiçara conseguiu que os outros pescadores o ajudassem a arrastá-lo para fora do rio e a colocá-lo no chão, próximo às raízes do mangue. Ele usou uma pequena parte do duto para fazer canteiros na praça principal da vila. A peça do duto que sobrou tornou-se uma videoinstalação que reúne os sons do manguezal, com uma colagem de diferentes imagens e momentos do envolvimento perceptivo com a memória do vilarejo. Durante nosso laboratório, Luiz Antônio (L.A.), um dos poucos pescadores mais jovens e respeitado pelos idosos, participou de uma caminhada performática e de um momento de gravação sonora através do mangue para formulação das perguntas a serem feitas quando entrevistamos os pescadores mais tradicionais, Sr. Geraldo (G) e Sr. Zuca (Z). Ao fazer isso, evocamos, provocamos e unimos histórias e memórias intergeracionais dispersas deste lugar, ao lembrar da época em que foi inundado pelo derramamento de petróleo de um navio iraquiano, em 1975. Eles também compartilharam conosco que, no ano 2000, uma ruptura de dutos causou um derramamento de petróleo dramático na baía. Um mês depois (após o término de nosso laboratório), devido a outro derramamento de petróleo, os pescadores foram à televisão exigir a atenção das autoridades para a saúde das águas da Guanabara.

Assista o video na integra clicando aqui

Feiticeira - Marcela Cavalini e Sofia Mussolin

A ação Feiticeira, realizada em parceria entre as artistas Marcela Cavallini e Sofia Mussolin e moradores da Colônia Z-10, na Ilha do Governador – RJ, se iniciou com a convivência na residência artística do projeto Territórios Sensíveis. A proposta de habitar e aprender com o ambiente, investigar onde e como se processa a vida de seus moradores, nos trouxe duas maneiras de tateamento: em oficinas corporais ministradas por Marcela, e em caminhadas de registro audiovisual feitas por Sofia, acompanhada de Thiago. O momento relacional através da oficina corpo-ambiente (aberta ao público) e da escuta andarilha da experiência de ser pescador naquele território, foram guiados pela imagem e materialidade do se "fazer em rede". A Colônia Z-10 traz inúmeras coexistências, de um ambiente que proporciona, ao mesmo tempo, fonte de alimento e sustento e crescente poluição do mangue e das águas da Baía de Guanabara.
Através da imagem de uma serpente mítica e fruto dessa paisagem real, o nome Feiticeira veio tanto por se relacionar com um tipo de rede usada pelos pescadores da região (feita de 3 enredados, que tudo leva), quanto pelo poder místico feminino que suscita, e, ainda, para invocar o imagético como forma possível para alertar a realidade. Fomos inspirados por uma conversa com o Sr. Geraldo, pescador mais antigo da região, que nos trouxe o conceito dessa rede que pesca, sobretudo, "aqueles peixes nobres, como Robalo e Linguado, que possuem casa própria e vivem no fundo do mangue". Dessa forma, ativamos os corpos de diferentes maneiras, coletamos redes, trançamos garrafas recolhidas na comunidade e corporificamos esse signo da colônia, a fim de denunciar o estado de urgência em que estamos existindo.
Em performance, surgimos de barco, em meio ao mangue, junto a outros moradores. Todos enredados pela rede-escama, e, em seguida, saímos em caminhada-performance pela colônia entoando palavras de alerta à situação de degradação daquele ambiente.

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Memórias Ativistas - Alessandro Paiva

Como me aproximar e propor, através da escrita e do design ativista, reflexões e ações coletivas sobre as questões ambientais que permeiam a vida cotidiana de pescadores e moradores da Colônia Z-10? O movimento, a mecânica e a corporeidade criada nos processos gráficos de escrita nos levaram à construção desse “como”, ativando memórias e nos mostrando os caminhos de nossa ação. Durante nosso laboratório imersivo na Colônia, me reuni com jovens moradores e a proposta de uma oficina gráfica foi se tornando apenas um meio de troca e de relação entre os corpos que vivem naquele território (sentindo diretamente as questões ali presentes) e meu corpo “estranho”, que ali chegava.
Ao longo de nossos encontros refletimos sobre o cotidiano da colônia e o descarte inadequado de lixo no Mangue. Através de uma prática proposta pelo design ativista, construímos uma espécie de gráfica humana, trabalhando juntos na elaboração e produção de cartazes, desde o processo mecânico: cortar a letra, encaixar, passar a tinta e colocar para secar; até a ação ativista de colá-los nos muros da colônia, ocupando o espaço público e ampliando nossas discussões.
Aos poucos, fomos edificando memórias coletivas acerca do mangue, e ocupando os locais de uso comum da colônia: o rancho de trabalho da pesca, a sede da colônia e os locais de lazer – todos conectados pelo lixo! Todos os lugares comuns na colônia receberam nossos lambes, que uma vez colados, apenas a ação do tempo, ou do homem, poderá retirá-los. Um paradoxo temporal, acerca de nossas próprias ações frente às suas implicações no mundo.

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Paisagens Sonho - Patrícia Freire

Paisagens sonho é uma ação colaborativa de projeções de sonhos, criação de tintas orgânicas – com materiais coletados na Colônia Z-10 –, e pintura. Durante 5 dias, diariamente, eu e um grupo de jovens moradores da comunidade nos reuníamos na sede da associação de pescadores da colônia para uma oficina de pintura, juntos conversávamos sobre sonhos, paisagens, vida diária e futuro. Nossas conversas iam tomando, ou não, formas, tons e movimentos. Paisagens sonho foi uma proposta para que juntos pudéssemos imaginar o futuro, a partir de um exercício de ser e estar no presente, em plenitude.

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Um Outro Lugar - Mari Moura

A ação performática Um Outro Lugar, idealizada pela artista Mari Moura, consistiu na criação do Ministério dos Territórios Sensíveis. Em tempos de um governo autoritário, da criação e do fechamento de vários ministérios no Brasil, Mari Moura, autointitulada Ministra dos Territórios Sensíveis, de seu gabinete em Brasília - DF, via live streaming no Instagram, conversou com moradores, frequentadores e transeuntes da Colônia Z-10 sobre o que eles imaginavam para a constituição de um outro lugar para viver. Com bloco de notas em mão, a Ministra anotou as pistas deixadas para a constituição deste “Outro Lugar” a ser criado. Utilizando a telemática como meio de cocriação, coexistência e ampliação dos diálogos, Um Outro Lugar busca alargar a noção de território, rompendo com as fronteiras geográficas e sensíveis.

Laboratório 3 - Ilha de Paquetá | RJ

Localizada no meio da Baía de Guanabara, a bucólica e histórica ilha de Paquetá, como única ilha sem acesso terrestre habitada por pessoas residentes, mantém viva uma maneira específica de viver, chamada pelas pessoas que lá moram como um ser Ilhéu.
Paquetá também tem uma história de pesca, mas a ilha é mais conhecida por seu apelido de "Ilha dos Amantes". No passado, era conhecida por suas praias paradisíacas, não apenas o Rei de Portugal costumava passar suas férias lá, mas também foi cenário da famosa novela "A Moreninha", filmada nos anos 1970. No entanto, hoje Paquetá tem problemas semelhantes aos da Colônia Z-10, que em resumo podem ser descritos como se movendo entre um passado distante e um futuro próximo, entre tradições locais e crise ambiental, e/ou entre a sobrevivência e a construção de novas formas de vida.
As perguntas: O que é ser Ilhéu hoje em dia? Como é viver exatamente no meio de uma paisagem de destruição e poluição? Por que e como os Ilhéus mantêm vivo o sentimento de pertencimento?, moveram nossos encontros com os Ilhéus Alessandra Gomes (estudante e fotógrafa), Danyelle Mayor (bióloga), Emanuel Barbosa (ativista e músico), Januário e Francisco Campos (estudantes). O conviver e habitar esta Ilha nos levou a criar novas formas de nos conectarmos, sentirmos e percebermos os problemas, novos modos de engajamento, juntos, formando um só corpo com toda a sua complexidade, começamos a ouvir, sentir e nos sintonizar com este território sensível chamado Paquetá.
Deste laboratório participaram os artistas: Nathalie Fari, Guto Nóbrega, Cesar Baio, Paola Barreto, Sofia Mussolin, Marcela Cavalini, Daniel Puig, Mari Moura, Patrícia Freire e Walmeri Ribeiro. Contamos ainda com a participação da artista Gabriela Bandeira (projeto aGradim) e da filósofa e pesquisadora sobre questões do Antropoceno, Alyne Costa.

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Nathalie Fari (artista convidada)

Como se aproximar de um lugar desconhecido, ou melhor, como incorporar um lugar em crise? Um lugar chamado Paquetá - “pac” (paca) e “etá” (muita) - uma pequena ilha no meio da Baía de Guanabara que desde os tempos coloniais vem recebendo diferentes pseudónimos. Hoje em dia, essa ilha vive entre um passado distante e um futuro próximo, entre as paisagens míticas e os problemas ambientais causados pelo homem, entre tentar sobreviver e construir novas narrativas. Dentro desse cenário, surgiu a proposta de um trabalho performativo e somático. Com um foco nas questões do lugar, desde o micro (a nossa sala na Casa das Artes) até o macro (o que vem a ser o Antropoceno), meu objetivo foi a criação de imersões corpo-ambientais a partir de diferentes exercícios. Baseados no conceito de site-specific e na improvisação, assim como em técnicas corporais como o yoga e os 5 ritmos (ou “conscious dance”), esses exercícios visaram aprofundar as relações criadas tanto com o grupo, quanto com o lugar. Uma das questões correntes foi procurar entender a dinâmica de um lugar isolado do mundo e, ao mesmo tempo, imbricado pelas atuais mudanças climáticas. Sob esta perspectiva, o meu corpo em contato com os outros corpos, recebeu diferentes estímulos e vivenciou diversas formas de estar nos lugares. O que ainda soa em meu corpo é o movimento da respiração que geramos durante os exercícios, do inspirar e expirar do corpo individual e coletivo. Por alguns momentos, conseguimos até ser um corpo só, enraizado numa ilha que assim como todo organismo vivo, necessita de uma respiração profunda, de uma reconexão do que significa cuidar de si, do outro e dos lugares que nos circundam.

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Guto Nobrega (artista convidado)

Lixos são containers vazios de energia consumida. São resíduos descartados, energias estagnadas, que não se transformam, não recuperam seu potencial inicial. Poderíamos pensar o lixo em termos de informação e entropia. Paradoxalmente o lixo é redundância, mas também é informativo na medida do improvável, como o plástico dentro dos organismos vivos das águas, no bico das aves. É uma informação que incomoda e que nos ameaça com sua presença ausente. Não consumimos a natureza, mas sim seus subprodutos industrializados. Há que se voltar para a terra, para a água, para o ar. O fogo nos cura, extrai nossos males. Fumaças sobem ao vento. A água nos lava e o sal nos limpa. Recuperamos nossas energias. A terra nos aterra para nos conectar com as estrelas, com o cosmos, na medida que criamos raízes, como as plantas. Comer as plantas. Resgatar uma harmonia sem perdas, apenas mantendo o fluxo sutil da vida que passa por nós. Há que se desnudar para retornar à natureza, sem danos, ou perdas, sem lixo. Onde não estaremos mais separados de nada.

Cesar Baio (artista convidado)

Na residência realizada em Paquetá, meu interesse foi discutir a relação entre a paisagem natural da ilha, objetos lançados como lixo na Baía de Guanabara e os navios, plataformas e infraestruturas ali instaladas. Como princípio de minha intervenção naquele local específico, assumi a intenção de fazer isso a partir da criação de uma relação horizontalizada e de aprendizado mútuo com habitantes locais. Deste projeto, surgiu a proposição Obliterações. No Dicionário, obliterar significa "fazer desaparecer ou desaparecer uma coisa, pouco a pouco, até que dela não fique nenhum vestígio”. A ação proposta partiu do exame das imagens que os habitantes locais haviam produzido da ilha em que vivem. Estas imagens foram as catalisadoras de debates sobre a política da paisagem no contexto de Paquetá. O que estas imagens contam sobre o lugar e as pessoas? O que se mostra e o que se esconde nestas paisagens? De que maneira as praias e o mar se entrelaçam com objetos descartados presentes em suas praias, os navios, as plataformas e as infraestruturas instaladas nestas paisagens do Antropoceno?
A partir desta provocação, os moradores da ilha Alessandra Gomes, Daniele Mayor, Emanuel Barbosa, Francisco Campos, Januário Campos, se lançaram comigo em caminhadas pelas praias. A comum visada do horizonte em busca da paisagem de cartão postal deu lugar a olhos voltados à areia, ao lixo flutuante atracado na areia e às formas possíveis de composição entre aqueles objetos e a paisagem vista a partir da ilha. Se para mim aquelas paisagens remetiam a um complexo de conexões entre minhas leituras sobre o Antropoceno e as sensações disparadas por desenhos, pinturas e fotografias que encontrei em minhas pesquisas sobre a ilha, para meus companheiros de caminhada, elas eram a lembrança de passagens longínquas e recentes de suas próprias vidas. O gesto poético de obliterar, de “fazer desaparecer” um elemento da paisagem, acabou por revelar dimensões da realidade que costumam passar desapercebidas seja por estarem submersas nas águas profundas da Baía, seja por estarem acessíveis apenas àqueles que vivem na ilha cotidianamente. Entre o que está visível e invisível, o trabalho cria vestígios do que não é visto e acaba por embaralhar as funções de registro, memória e invenção da imagem.

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Patrícia Freire (artista Convidada)

Essa ação é inspirada na celebração da primavera indiana chamada "Holi Festival", uma manifestação popular que acontece todo ano praticamente em toda a Índia como tradição do povo em sair às ruas para dançar lançando pó colorido e água uns nos outros.
A partir desta provocação, os moradores da ilha Alessandra Gomes, Daniele Mayor, Emanuel Barbosa, Francisco Campos, Januário Campos, se lançaram comigo em caminhadas pelas praias. A comum visada do horizonte em busca da paisagem de cartão postal deu lugar a olhos voltados à areia, ao lixo flutuante atracado na areia e às formas possíveis de composição entre aqueles objetos e a paisagem vista a partir da ilha. Se para mim aquelas paisagens remetiam a um complexo de conexões entre minhas leituras sobre o Antropoceno e as sensações disparadas por desenhos, pinturas e fotografias que encontrei em minhas pesquisas sobre a ilha, para meus companheiros de caminhada, elas eram a lembrança de passagens longínquas e recentes de suas próprias vidas. O gesto poético de obliterar, de “fazer desaparecer” um elemento da paisagem, acabou por revelar dimensões da realidade que costumam passar desapercebidas seja por estarem submersas nas águas profundas da Baía, seja por estarem acessíveis apenas àqueles que vivem na ilha cotidianamente. Entre o que está visível e invisível, o trabalho cria vestígios do que não é visto e acaba por embaralhar as funções de registro, memória e invenção da imagem.

Paola Barreto – Dr. Fantasma

Cheguei à Paquetá sem saber exatamente o que iria encontrar. Tentei não idealizar nem projetar nada, partindo da ideia de que a própria ilha me diria qual caminho tomar. Logo na chegada, decidi trabalhar em duas linhas de investigação. De um lado, colecionando vestígios, pistas, rastros e sinais a partir de objetos naturais ou fabricados que aparecessem em meu caminho, e que pudessem se tornar meus aliados em uma possível criação sobre esse território – físico e simbólico. Por outro lado, na biblioteca da Casa das Artes, encontrei algumas publicações sobre a Ilha, suas lendas, sua história oficial e as memórias de viajantes de épocas diversas. Particularmente me interessou o tema das guerras entre diversos grupos indígenas (Tamoios, Tupinambás e Temiminós) quando da invasão portuguesa, e o que a ilha poderia guardar, como testemunha deste período colonial.
Organizei assim meus dias de trabalho entre leituras, anotações e pequenas derivas pela ilha, acompanhada dos ilhéus e de alguns colegas de residência, dispostos a encarar comigo esse jogo de fabulação a partir de objetos encontrados. A busca em si já acontece sempre carregada de sentidos projetados, e os significados adquiridos por cada elemento da coleção vão sendo alterados em narrativas inventadas e confrontos entre versões possíveis para as supostas origens de cada objeto encontrado.
Ao término das derivas, reuni uma coleção onde os objetos fabricados se mostraram menos interessantes do que os objetos naturais – ao menos na rede de narrativas que começamos a tecer. Nesse diálogo através do tempo e do espaço, entre humanos e natureza, retomei pesquisas anteriores de trabalhos realizados com plantas, e me embrenhei por uma nova conjectura:
o que as árvores da ilha poderiam me contar? Essas árvores certamente são netas, bisnetas ou tataranetas de árvores que podem ter testemunhado muita coisa… As avós das árvores contam histórias às suas netas, como a minha me conta?
E se começássemos a olhar para as plantas não só pelo oxigênio que produzem, mas também pelo que podem nos ensinar?
Se as plantas são capazes de aprender com a experiência e, portanto, possuem mecanismos de memorização, essa memória fica inscrita em seus corpos?
Em seus fósseis?
Foi assim que separei as flores secas de algumas palmeiras. A ideia era aproveitar estas flores secas para criar dispositivos comunicacionais, como rádios experimentais para criar um canal que liga passado e futuro.

Mari Moura (artista convidada)

Em Paquetá realizei presencialmente a ação performática Um Outro Lugar. A ação consistiu na presença e no deslocamento da Ministra (Mari Moura) pelas ruas da ilha de Paquetá. Conversei com os moradores e transeuntes sobre o que eles querem para a constituição de um outro lugar para viver. Com bloco de notas em mãos, anotei as pistas deixadas para a constituição deste “Outro Lugar”. Todo o deslocamento foi transmitido ao vivo via Instagram, ampliando assim, via telemática, a constituição do sensível e a ampliação do território.
Com a comunidade da ilha, estabelecemos um espaço de luta diária na constituição de um território sensível para se viver em meio às águas da Guanabara.

Daniel Puig (artista convidado)

Ao terminar a oficina de escuta Cosmoaudições, que ofereci na Ilha, tinha outra vez aprendido a escutar o mundo de uma nova maneira. É a mágica do contato humano criativo, aberto e curioso, da busca por algo que nos diga mais sobre a vida e seus viventes. Ela contagia, brota onde não se espera e nos arremessa aos caminhos. Delicada teia sonora espalhada em seu microambiente. Respingada nas ondulações do mar. Acolhida em um dispositivo de registro em dois canais, microfones a 90 graus. Emanuel falava dos apoitos, essa palavra das vidas marítimas que me faltava no vocabulário. Apoitar é prender o barco com um bloco de concreto amarrado a uma corda e uma boia. À noite, a boia recebe uma chama acesa, coberta por um garrafão de água com o fundo cortado. E o barco ao redor, preso pela corda, sem nunca encalhar, como uma ilha móvel... Essa é a razão de ser do apoito: prender o barco na praia ou nos pontos de pesca próximos às ilhas, e evitar que encalhe, deixando que dance, livre, nos fluxos e marés. De repente, tudo era apoito. A escuta das ondas e marulhos, o não-retorno à sua terra, as conversas e práticas pisando os territórios sensíveis, o desenrolar dos processos de criação coletivos e individuais, a própria vida ida-e-vinda ilhoa. Tudo era apoito. Aquilo que fica para te libertar.

Marcela Cavalini (artista convidada)

Habitar, de maneira geral, se relaciona intimamente ao sentimento de estar vinculado à terra, ou seja, a algum território que seja de importância e relevância para a vida dos seres e das coisas que dela comungam. Mas habitar não é algo estático. Habitar implica estar presente e vivo na relação. Esse aspecto recoloca o movimento como condição central para os corpos que, desde suas experiências vividas, nas relações que constroem e se enraízam, compartilham um território. Quando me movo em direção à Ilha de Paquetá é porque desejo partilhar, com ela e com seus habitantes humanos e não-humanos, desse território movente, através da dança e da performance. Construir e criar um novo território que não pertence somente aos que lá já estão, tampouco é promovido exclusivamente pela minha chegada. E sim, um terreno, um plano que nos perpassa e nos faça vibrar nesse encontro que é intensificado pela magia e pelo encantamento e que, por isso mesmo, talvez só aconteça ali, com tudo que compõem aquele lugar. A historicidade colonial, presente nas edificações, os rastros e o discurso dos moradores sobre o que afeta a face turística da atual Paquetá: a presença do lixo e a poluição das águas da Guanabara; me lançaram à proposta da performance Apocalipxon. Quem são os corpos-lixo que povoam certo imaginário abjeto e apocalíptico? Como estão emaranhados às marcas de um projeto necrocolonial? Como coabitar esse território movente?
O pátio da Comlurb, que armazena o lixo recolhido na Ilha e o lixo retirado das praias e águas da Guanabara, se apresentou como o cenário/paisagem para a investigação dessas questões. Desenvolvi minha ação lá, em meio aos materiais recolhidos e às pessoas que os recolhem. Com apoio da direção local e dos garis, entre eles, seu Hélio, tive acesso a história daquele terreno e aos dados do fluxo de lixo. Todos compunham comigo esta pesquisa e a criação da performance Apocalipxon, apresentada no encerramento do Laboratório. Em colaboração com os artistas Emmanuel Barbosa e Daniel Puig, a sonoridade aconteceu somando-se à daquela paisagem. Um ritual fora do mapa. Para performar o amanhã. Através da escuridão. Habitar o agora. Ser guiado pelo passado. Em respeito aos que aqui não existem mais.
Deixar-se ser Ilha.

Sofia Mussolin (artista convidada)

Para o desenvolvimento da ação artística "Reflexões da Baía" propus aos participantes uma caminhada silenciosa e solitária, observando o deslocamento de seus próprios corpos através de um papel de superfície refletora. As intenções da ação consistiam em redimensionar o lugar que um corpo ocupa na paisagem, repensar os limites entre interno/externo e perceber que o que olhamos, também nos olha. Assim, estendemos a noção de forma e criamos possíveis definições para o conceito de coexistir. Nesta proposta coexistimos. A ativação de um outro olhar e escuta, que percebe a paisagem perturbada e se insere em uma prática de intimidade com outros seres e seus mundos, individual e coletivamente, reflete sobre a experiência corpórea integrada ao território. Como nós, humanos, nos relacionamos e “refletimos” com a Baía de Guanabara? Como a Baía se relaciona e se “reflete” em nós? Este é um convite a fabulações de novas correlações no desenvolvimento de movimentos relacionais multiespécies.

Laboratório 4 – Galeria Z42 | RJ

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Depois de um ano de encontros, experiências e imersão nos Territórios insulares da Baía de Guanabara, nos reunimos em janeiro de 2020 na Galeria Z42, localizada no Cosme velho, na Zona Sul carioca, para um processo de criação e desenvolvimento de obras artísticas coletivas. Era o momento de estarmos todos juntos, de conversarmos sobre o que vivenciamos, de dar visibilidade aos processos e de compartilhar, com um público mais amplo, a experiência vivida.
O objetivo deste quarto laboratório era o de criar um diálogo amplo sobre as questões que levantamos, para isso decidimos criar um “espaço entre”, um espaço entre a experiência imersiva nos territórios e a exposição das obras artísticas. Para compor este “espaço entre”, além do nosso coletivo temporário composto pelos 12 artistas e 10 colaboradores, convidamos outros artistas, cientistas, ambientalistas e pescadores (de outras colônias), para que juntos tecêssemos coletivamente uma grande rede que abraçasse todas as questões e pontos de vista desse território sensível chamado Baía de Guanabara.

Exposição – Galeria Z42 | RJ

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Videoduto
Instalação
Ruy Cesar Campos e Luiz Antônio-Pãozinho

Em 18 de janeiro de 2000, 1,3 milhões de litros de óleo vazaram na Baía de Guanabara após o rompimento de um duto de petróleo em Duque de Caxias. Enquanto uma zona de sacrifício em nome do progresso, são aqueles que nela e dela vivem, os sacrificados, muitos ainda hoje em luta para receber as devidas indenizações. O duto que compõe esta videoinstalação foi encontrado na beira do Mangue do Jequiá, na Colônia Z-10. Em 2018, depois de flutuar em meio a dança entre vento, correntes marítimas e microplásticos da Baía de Guanabara, o duto adentrou o mangue, danificando os barcos de pescadores, até encontrar um propósito transitório e ser usado para um ensaio audiovisual.
Em 2019, o rio Jequiá foi um dos pontos de visibilidade de denúncias de vazamento de óleo proveniente de navios. Seu Geraldo, um dos pescadores mais velhos da colônia Z-10, em entrevista para a construção do videoduto, realizada por um dos pescadores mais novos e respeitados da Colônia, conta como em 1975 o primeiro vazamento de óleo gigantesco da Baía de Guanabara promoveu um incêndio devastador.

... 1975, 1997, 2000, 2019, Baía de Guanabara e seus estratos esquecidos de desastres da petropolítica.

Feeling like a FISH ou Sentindo-se como um Peixe
Instalação sensorial
Walmeri Ribeiro, Daniel Puig, Thiago Caiçara e Luiz Antônio-Pãozinho

A instalação sensorial Feeling like a FISH ou Sentindo-se como um Peixe, surgiu do encontro com um dos pescadores mais antigos da Colônia Z-10, o Sr. Geraldo, e do convite para acompanhá-lo em um dia de pesca na Baía de Guanabara.
Na fala do experiente e atencioso pescador, ao relatar as dificuldades da pesca artesanal frente à poluição da Baía, nos disse: “Até o peixe já vem embalado, de tanto lixo”. Esta frase ecoou em nossos corpos, e foi visível a olhos nus, tornou-se então estímulo para a criação do projeto desta instalação sensorial.
Composta por uma carcaça de refrigerador, descartada no mangue do Jequiá, o lixo plástico produzido pelos dos artistas envolvidos que foi coletado, e sons captados no fundo e na superfície das águas da Baía de Guanabara, Feeling like a FISH ou Sentindo-se como um Peixe, convida o espectador/participante a tornar-se performer e experienciar, pelo tempo que desejar, ou aguentar, as sensações que a poluição das águas da Guanabara produz nos corpos dos peixes e animais marinhos, assim como nos nossos, humanos.
Esta é uma obra-convite ao sentir, romper hábitos e se reconectar com o que comumente chamamos Natureza.

Feiticeira
Instalação e Performance
Marcela Cavallini, Sofia Mussolin e moradores da Colônia Z-10

Feiticeira é o nome dado a um tipo de rede (feita de 3 enredados) usada pelos pescadores da Baía de Guanabara. Nesta obra, a tessitura coletiva desse enredado evoca o poder feminino e a imaginação como campos de força e visibilidade para as questões ambientais que permeiam a vida cotidiana das pessoas que vivem e sobrevivem na Colônia Z-10 e na Baía de Guanabara.
Inspiradas nas palavras de Sr. Geraldo: "aqueles peixes nobres, como Robalo e Linguado, que possuem casa própria e vivem no fundo do mangue", realizamos a oficina corpo-ambiente, coletamos redes, imagens e histórias durante um processo de escuta andarilha, recolhemos garrafas de plástico e as trançamos, construindo nossa grande serpente Feiticeira. Corporificamos esse signo e surgimos de barco, em meio ao mangue, num só corpo, coletivo, enredado pela rede-escama. Em seguida, saímos em caminhada-performance pelas ruas da colônia.
Nossa serpente Feiticeira, essa rede-escama instalada na galeria Z42 é um convite para adentrá-la, sentir seu cheiro e seu peso, deixar o corpo submerso e acostumá-lo ao novo ambiente, questionar a realidade e suas emergências e compor a ação realizada na colônia de pescadores, corporificando-a.

Escutas para luz e água
Instalação
Guto Nóbrega e Daniel Puig

A instalação Escutas para luz e água é fruto de um feliz encontro de ideias e afinidades entre as investigações sobre comunicação à base de luz, água e vida orgânica de Guto Nóbrega e a inventividade sonora de Daniel Puig. O desejo, a princípio, era explorar como a água, enquanto meio, poderia informar um feixe luminoso de laser, quanto aos movimentos microscópicos de matéria orgânica proveniente de plantas aquáticas, ou, mais especificamente, o movimento das raízes dessas plantas. A ideia se constituiu em passar um feixe de laser através de um pote de vidro contendo o meio aquoso e a planta, refratar este mesmo feixe através de um cristal de quartzo, e fazê-lo incidir sobre um sensor de luz. Com a ajuda do Daniel, foi montado um sistema de síntese sonora na plataforma MAX/MSP, plataforma para criação de mídia interativa, com especial apelo aos artistas sonoros devido ao enorme potencial criativo de sua interface, no qual as modulações do feixe de laser causadas pelo deslocamento de matéria orgânica através da água pudessem ser escutadas. Trabalhamos com sistemas complexos, sejam eles de natureza matemática, sonora ou orgânica – uma investigação nesse campo nos dá muita margem para o caos e o improviso, peças fundamentais para a emergência de novas formas, sonoras e visuais.

Obliterações
Alessandra Gomes, Cesar Baio, Daniele Mayor,
Emanuel Barbosa, Francisco Campos, Januário Campos

Obliterar: Fazer desaparecer ou desaparecer uma coisa, pouco a pouco, até que dela não fique nenhum vestígio.

Obliterações parte de um exercício de observação e reinvenção da paisagem. Como examinar as tensões que se estabelecem entre a paisagem idílica da ilha de Paquetá, que historicamente atraiu o olhar de pintores, fotógrafos, escritores, turistas e habitantes do local, e as intervenções humanas de larga escala na Baía de Guanabara, instauradas pela urbanização descontrolada, pelas megainstalações industriais e pela poluição descontrolada?
A série fotográfica Obliterações discute o que é visto e o que é negligenciado pelos sentidos quando nos deparamos com uma paisagem que efetivamente representa o Antropoceno. No trabalho, objetos de lixo flutuante que atracam nas praias trazidos pelo fluxo das marés são utilizados para esconder determinados elementos da paisagem. Paradoxalmente, o gesto poético de “fazer desaparecer” um elemento da paisagem acaba por revelar dimensões da realidade que costumam passar desapercebidas, seja por estarem submersas nas águas da baía, pela negligência do olhar do visitante ou por serem acessíveis somente à memória afetiva de quem vive seu cotidiano naquele lugar. Entre o que está visível e invisível, o trabalho cria vestígios do que não é visto e acaba por embaralhar as funções de registro, memória e invenção da imagem.

Em busca de uma natureza perdida
Fotografia
Nathalie Fari

A série fotográfica Em busca de uma natureza perdida emergiu de um laboratório performativo que a artista Nathalie Fari realizou durante a residência artística em Paquetá. Usando o processo de documentação como base para a criação de momentos performativos, assim como formas de narração, essa série problematiza as questões ambientais da Ilha a partir de uma dimensão fictícia; criando um cenário pós-apocalíptico, no qual a ilha tornou-se inabitável em função das mudanças climáticas. A única coisa que sobrou, é uma série de corpos deitados sempre na mesma posição, em diferentes pontos da ilha, congelados como se o tempo tivesse parado, como se ainda houvesse uma chance de recuperação, recuperação de uma natureza perdida, de todos os tipos de vida humanas e não-humanas...

Pergunte às árvores
Instalação
Paola Barreto – Dr. Fantasma – colaboração dos Ilhéus

Pergunte às árvores é o nome desta instalação composta pelas flores secas de palmeiras coletadas na ilha, associando-as a bobinas de cobre e amplificadores de áudio, que dei como minha contribuição na Z42. Essas flores, apesar de não estarem mais vivas, guardam memória e história, como jovens fósseis. E se pudéssemos ouvi-las, o que teriam a nos dizer? Considerando que testemunhamos todos, humanos e não humanos, ao que chamamos de mudança de era geológica, apresentei alguns protótipos de dispositivos multimediúnicos, associando tecnologias de conexão entre distintas formas de energia e nossa capacidade de imaginar e sonhar juntos. Desse modo é como se as antenas de flores secas nos possibilita de fato uma conversação, nos colocando em contato com vozes que são audíveis apenas através desses dispositivos, que combinam elementos eletrônicos a elementos orgânicos.
Guto Nóbrega trouxe algumas provocações interessantes para desdobrar a pesquisa com o aparato, apontando para a importância de se aferir qual faixa do espectro essas antenas de flores estariam sintonizando, bem como a necessidade de criar parâmetros para compreender o que de fato estamos escutando: rádio comercial, frequências naturais ou vozes do além?

Escritório de [Des] afetos
Fotografia e Processos Gráficos
Alessandro Paiva

Escritório de [Des] afetos configura-se como uma outra cartografia da Baía de Guanabara. Composta por imagens fotográficas, textos – com pensamento de autores como: Deborah Danowski, Isabelle Stengers, Felix Guattari e Eduardo Viveiros de Castro, que estudamos durante o processo –, um caderno de bolso que me acompanhou durante os laboratórios, contendo relatos e notas, e informações sobre contaminação, poluição, esgoto e plástico, relacionados a Baía de Guanabara, divulgados em sites jornalísticos, científicos e culturais. A obra exposta realiza um cruzamento desses dados, propondo diálogos semânticos e um diagrama/paisagem com a complexidade desse território chamado Baía de Guanabara.

Gabinete Ministério dos Territórios Sensíveis
Performance
Mari Moura

O gabinete do MITESE tem como objetivo performar os despachos da pasta por meio das seguintes atividades: 1. instalar fisicamente o gabinete de trabalho; 2. conviver com os artistas e colaboradores do projeto Territórios Sensíveis, com intuito de propor e realizar ações artísticas coletivas; 3. conviver com os frequentadores da Galeria a fim de explicar o que é o MITESE e quais as ações da pasta; 4. emitir e publicar portaria de posses para os assessores empossados durante as etapas do projeto na Colônia Z-10 e Ilha de Paquetá; 5. Realizar transmissões ao vivo, no espaço virtual do Instagram, das intervenções realizadas. 6. Apresentar a elaboração da cartilha de performance do MITESE, onde seriam descritos os protocolos da performance Um outro lugar realizada pela performer Mari Moura.

Paisagens Veladas
Patrícia Freire

Paisagens veladas reúne uma série de pinturas em aquarela, que realizei a partir de minhas sensações e da relação com as diversas paisagens que compõem a Baía de Guanabara. Para essa série, lancei-me ao desafio de criar pinturas em folhas de papel A4, me propondo a performar, ao vivo na galeria, junto à água e a tinta em contato com a superfície do papel. Um processo de desvelamento e compartilhamento de paisagens que compunham apenas o meu imaginário, minhas sensações e percepções deste território velado.

Pesquisa Performativa – Guapimirim | Quilombo do Feital | Colônia Z-9 – Magé

Ainda em 2020, como parte de um novo mapeamento performativo realizamos uma imersão, com um grupo menor de artistas, na área de manguezal da APA de Guapimirim (ICMBio), localizada na região nordeste da baía, o conhecido recôncavo da Guanabara. Recebidos pela bióloga Juliana Fukuda, percorremos as águas dos rios não poluídos Guapi-Macacu e Guaraí, que desembocam na Baía de Guanabara. São 60 Km de mangues preservados, dentro dos limites da APA, uma parte deste mangue é remanescente, mas grande parte é resultado do reflorestamento. A alguns quilômetros dali um perigo iminente de contaminação e destruição, o complexo petroquímico do Estado do Rio de Janeiro-COMPERJ, instalado entre os municípios de Itaboraí, Guapimirim e Cachoeiras de Macacu. Entre um risco iminente e a beleza dos rios, mangues, fauna e flora, iniciamos o desejo de conhecer as comunidades caiçaras e quilombolas que habitam aquela região.
Com as ações interrompidas em função da pandemia de COVID-19, apenas no final de 2020 conseguimos realizar as primeiras visitas às comunidades do Quilombo do Feital e dos pescadores artesanais de Magé – Colônia Z-9.

Laboratório – Quilombo do Feital | Magé-RJ

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Recebidos por um grupo de mulheres Quilombolas, lideradas por Valdirene, durante os dois dias de convivência conhecemos as narrativas da pesca do caranguejo, realizada por parte das mulheres do Quilombo, do plantio e tratamento do colorau e do artesanato em palha. Como parte de uma zona de sacrifício, este é mais um território em disputa às margens da Guanabara. Juntas desenhamos algumas possibilidades de ações, discutimos a importância do trabalho com mulheres, jovens e crianças do Quilombo. Traçamos rotas coletivas.
No entanto, com a crise sanitária e social instaurada no Brasil, as atividades presenciais de Territórios Sensíveis junto às comunidades tiveram que ser interrompidas. A realidade de contaminação, morte, pobreza e fome em muitas comunidades se agravaram. Com isso, continuamos em relação mediada (quando possível, diante da carência de uma internet de qualidade) com as comunidades, esperando o momento de voltarmos à convivência ou a criação de outros modos de viver junto.
Nossas rotas tiveram que ser revistas, abandonadas. As urgências ainda eram outras, mas a comunicação e a continuidade de interação, possibilitada pelo edital de apoio à projetos do Prince Claus Fund, possibilitou o redesenhar de ações futuras, que, no seu tempo, começam a ser desenvolvidas.

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Ilha Seca – Territórios Insulares da Petropolítica

Em 2021, diante de novas tentativas e a incerteza das realizações de novas ações junto às comunidades, convidei um grupo de artistas-pesquisadores e o pescador e ambientalista Thiago Caiçara, para nos lançarmos em um novo projeto a ser instalado na Ilha Seca, uma ilha abandonada pela Texaco na década de 80, localizada próxima à Colônia Z-10 – Ilha do Governador, e que é reconhecida pela comunidade como uma área de lazer, já que esta é uma das poucas ilhas restante não habitadas ou “privatizadas” pela indústria do petróleo.

A Ilha chamou nossa atenção desde o primeiro mapeamento performativo realizado em 2019, mas os perigos de adentrar uma ilha “abandonada” e em disputa, assim como as urgências que víamos nas comunidades, nos fez aguardar o tempo apropriado de ação.
Com o convite lançado ao Thiago, mobilizamos um grupo de pescadores da colônia e partimos em direção à ilha. A ideia inicial apresentada ao grupo de pesquisadores era uma busca por novos modos de convivência e coabitação, já não apenas com a comunidade humana, mas também, e especialmente, com as comunidades não-humanas.
Do antigo terminal de atracação, hoje em ruínas, avistamos todo o complexo sistema petrolífero da Baía de Guanabara, às margens das praias... lixo, montanhas de lixo de todos os tipos. No entanto, ao adentrar a pequena ilha, descobrimos sua grandiosidade e força como território de resistência. Uma cidade-floresta.
Durante dois dias habitamos a Ilha Seca em busca de rastros, vestígios e estímulos. A busca por possibilidades de novos modos de coexistência e reinvenção poderia ser uma metáfora, mas não o é. Com este pequeno pedaço de terra cercado pelas águas da Baía de Guanabara, pudemos sentir a potência do que é resistir e existir. Permeada por rastros e vestígios de seus usos históricos, a ilha "abandonada" pela empresa petroleira Texaco na década de 80, encontra-se hoje completamente tomada por uma natureza que se reinventa, ocupa e transforma o espaço insular. As marcas de sua exploração por lá estão, dos indígenas à colônia portuguesa, da colônia à indústria petrolífera e ao sistema petropolítico, do petróleo às árvores, pássaros, mata, fungos, animais e alguns humanos passantes que a utilizam como espaço de lazer, pesquisa e criação.

“É simplesmente por existirem que as plantas modificam globalmente o mundo, sem sequer se mexerem (...) Ser significa para elas fazer mundo”
Emanuelle Coccia

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D. Glória - moradora da Colônia Z-10
“Vivemos em uma bacia d'água”

Sofia Mussolin
Imagine uma esfera de água com punhados de terra emergindo desse corpo aquoso, repleto de seres sencientes criando/destruindo seu entorno, e, consequentemente, interferindo nas próprias vidas. Assim como o conceito aplicado pela pesquisadora Anna Tsing, nesta investigação sensível seguimos as linhas de vida. As águas e as outras pequenas ilhas da Baía de Guanabara são incluídas como parte importante daquele mundo e daquela ecologia. A Ilha Seca surge como parte deste arquipélago, um montante de sedimento de terra que surge no meio do mar e narra uma perspectiva da história dessa bacia d’água na qual vivemos. Seu corpo, hoje, é regido em outra escala de temporalidade e mundos coconstruídos, ao mesmo tempo, no espaço e na carne. A imersão dos nossos próprios corpos visitantes também é convidada a simbiose-com, facilitando a transformação dessa paisagem em território familiar, em que percebemos os elementos que nos cercam como agentes vivos. Ao alterar nossa percepção de mundo e questionar nosso olhar, a sensação de vulnerabilidade nos rodeou de perguntas necessárias: Como humanos, estamos dispostos a dar quanto para manter uma relação multiespécie? Conseguimos operar uma mutação da nossa relação com outros mundos através da associação, em que exista “convergir e conviver” para atravessarmos uma crise climática, uma pandemia?
Adensar as questões pertinentes a Era que estamos existindo através da prática artística, que conecta os corpos e cultiva ações e pensamentos perfuradores da lógica de exploração de territórios e vidas, capacita a reabilitação dos horizontes e refúgios. As ruínas multiespécie entre o que foi deixado de rastros humanos e o que foi ocupado pelo ambiente na Ilha é a pulsão da resistência. Talvez esse seja o maior ensinamento dessa grande bacia d'água. A vida não apenas se adapta e se transforma, mas também é transformada por aquilo que a transforma.

Ana Clara Mattoso
O que emerge de um território em ruínas? A pergunta ecoa e retorna. Volta sempre diferente. A cada vez que volta, surgem imagens de seres que desconheço: insetos, plantas, fungos, humanos. Seres em interação perambulam pelas ruínas e habitam, enquanto criação diária, um ecossistema particular. Situado. Em novembro de 2021, compomos junto às vidas que constituem a Ilha Seca, uma ilha abandonada na Baía de Guanabara, esse espaço-tempo coletivo, no qual nosso grupo participava coletando impressões, imagens, vivências e fragmentos do que ali se degrada. A degradação, nesse caso, não é sinônimo de fim, mas de um estado constante de reinvenção da matéria. Caminhei pelas construções destruídas da antiga Texaco, um dos símbolos da indústria do petróleo, à procura de vida. Da vida que se esgueira com força pelas fissuras do extrativismo que assola nossas terras. Ali, coletei imagens. Imagens que são arquivo, mas que também fabulam a passagem de um grupo de artistas pesquisadores por essa Ilha onde a contaminação se alastra, transformando ruínas em floresta.

Realização
Financiamento
Apoio

RIOS AMAZÔNICOS
Pará| Brasil

Iniciamos o projeto Territórios Sensíveis| Rios Amazônicos pela região conhecida como Baixo-Tapajós, no Estado do Pará.

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GOJ TỸ URUSSANGA
Santa Catarina | Brasil

Mais de 500 anos marcam a chegada da colonização na América Latina. Desde então, os territórios latinoamericanos, reconhecidos por sua riqueza mineral, vêm sendo explorados e sufocados por ações extrativistas.

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POÉTICAS DO OUTRAR-SE
Rio de Janeiro | Brasil

Em meio a um cenário global de crises, catástrofes e emergência climática, a arte e sua capacidade de afecção, potencializando o encontro de corpos humanos e não humanos, torna-se aqui o eixo central desta pesquisa-criação.

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